sábado, 8 de agosto de 2009

"Viajando de maneira diferente"

Hoje venho aqui deixar um pequeno texto extraído do livro que estou a ler no momento de Paulo Coelho. "Ser como o rio que flui", uma compilação de contos, opiniões e ideias que constitui um belo reflexo da vasta criação do escritor. Livro que me foi aconselhado e retribuo a todos os que gostam de ler as obras de Paulo Coelho. Este texto que vos vou passar é uma opinião de uma pessoa bastante viajada e com a sua própria maneira de viajar. Concordando com algumas coisas e outras não, achei por bem colocar aqui.

"Viajando de maneira diferente"

"Desde muito jovem que descobri que a viagem era, para mim, a melhor maneira de aprender. Continuo com esta alma de peregrino até hoje, e decidi relatar nesta crónica algumas das lições que aprendi, na esperança de que possam ser úteis a outros peregrinos como eu.
1) Evite os museus. O conselho pode parecer absurdo, mas vamos reflectir um pouco: se você está numa cidade estrangeira, não é muito mais interessante ir em busca do presente que do passado? O que acontece é que as pessoas se sentem obrigadas a ir a museus, porque aprenderam desde pequeninas que viajar é ir em busca deste tipo de cultura. É claro que os museus são importantes, mas exigem tempo e objectividade - você precisa de saber o que é que deseja ver, para não sair com a impressão de que viu uma série de coisas fundamentais para a sua vida, mas que não se lembra quais são.
2) Frequente os bares. Aqui, ao contrário dos museus, a vida da cidade manifesta-se. Os bares não são discotecas, mas lugares onde toda a gente vai, bebe alguma coisa, pensa no tempo, e está sempre disposto a uma conversa. Compre um jornal e deixe-se ficar a contemplar o entra e sai. Se alguém puxar conversa, por menos importante que seja, continue a conversar: não se pode julgar a beleza de um caminho olhando apenas para a sua porta.
3) Esteja disponível. O melhor guia turístico é aquele que mora no local, que conhece tudo, que tem orgulho da sua cidade, mas não trabalha numa agência. Saia pelas ruas, escolha uma pessoa com quem deseje conversar, e peça informações (onde é que fica tal catedral? Onde é que são os correios?) Se não der resultado, tente outra - garanto-lhe que no final do dia vai encontrar uma excelente companhia.
4) Procure viajar sozinho, ou - se for casado - com o seu cônjuge. Vai ter mais trabalho, ninguém vai estar a cuidar de si, mas só desta maneira poderá realmente sair do país. As viagens em grupo são uma maneira disfarçada de estar numa terra estrangeira, mas a falar a sua língua materna, obedecendo ao ordena o chefe do rebanho, preocupando-se mais com as fofocas do grupo do que com o lugar que se está a visitar.
5) Não compare. Não compare nada - nem preços, nem limpeza, nem qualidade de vida, nem meios de transportes, nada! Você não está a viajar para provar que vive melhor que os outros - a sua procura, na verdade, é saber como os outros vivem, o que podem ensinar, como se confrontam com a realidade e com o extraordinário da vida.
6) Entenda que toda a gente o entende. Mesmo que não fale a língua, não tenho medo: já estive em muitos sítios onde não havia maneira de comunicar através de palavras, e acabei sempre por encontrar apoio, orientação, sugestões importantes, e até mesmo namoradas. Algumas pessoas acham que, se viajarem sozinhas, vão sair à rua e perder-se para sempre. Basta ter o cartão do hotel no bolso, e - numa situação extrema - apanhar um táxi e mostrá-lo ao motorista.
7) Não compre muitas coisas. Gaste o seu dinheiro em coisas que não vai ter de transportar: boas peças de teatro, restaurantes, passeios. Hoje em dia, com a globalização e a Internet, pode comprar tudo sem ter de pagar excesso de bagagem.
8) Não tente ver o mundo num mês. Mais vale ficar numa cidade quatro a cinco dias, que visitar cinco cidades numa semana. Uma cidade é uma mulher caprichosa, é preciso tempo para ser seduzida e se mostrar completamente.
9) Uma viagem é uma aventura. Henry Miller dizia que é muito mais importante descobrir uma igreja de que nunca ninguém ouviu falar, que ir a Roma e sentir-se obrigado a visitar a Capela Sistina, com duzentos mil turistas a gritar aos seus ouvidos. Vá à Capela Sistina, mas deixe-se perder pelas ruas, andar pelos becos, sentir a liberdade de estar a procurar algo que não sabe o que é, mas que - com toda a certeza - vai encontrar e que mudará a sua vida."